Muito voltado para as mulheres, os alertas em relação ao câncer de mama têm um reforço maior com o início da campanha Outubro Rosa. A mobilização teve início nos Estados Unidos, na década de 1990, a partir de uma iniciativa da Fundação Susan G. Komen for the Cure, que distribuía laços na cor rosa aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990. A partir daí, a iniciativa foi ganhando força até alcançar a dimensão internacional que existe hoje, sendo uma das mais reconhecidas campanhas de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama.
No entanto, apesar desse olhar para o público feminino, é importante ressaltar que a doença pode atingir também os homens, já que eles têm glândulas mamárias e hormônios femininos, ainda que em quantidades menores quando comparadas às mulheres. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) , a incidência do câncer de mama masculino representa 1% do total de casos da doença. Mesmo que seja mais raro, o alerta e a prevenção não podem ser descartados, especialmente porque é algo pouco falado e o rastreamento não é indicado para homens.
Considerando a alta incidência do câncer de mama, é importante ficar alerta aos sinais, já que a descoberta precoce é fundamental para o bom controle da doença. Segundo Paula Saab, que é médica mastologista membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia e preceptora do curso de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS) , os tumores iniciais possuem uma evolução muito favorável, podendo chegar a mais de 95% de cura se diagnosticados e tratados precocemente.
Para fazer essa avaliação, a equipe médica define o estadiamento da doença, que é o nome dado à classificação do grau de evolução tumoral, considerando o seu tamanho, a localização e a extensão da doença no organismo. Ou seja: se o tumor está restrito à mama ou se já alcançaram outras partes do corpo. Quanto antes intervir, mais fácil será controlar a doença, evitando que ele se espalhe para outras regiões.
Cinco sinais de alerta
Segundo a mastologista, quando o câncer de mama já se encontra com manifestações clínicas, em 90% das vezes ele se apresenta como nódulo palpável na mama. Mas existem outros quatro sintomas que também podem indicar a presença da doença, sendo geralmente sinais inflamatórios que não respondem a tratamentos tópicos (cremes dermatológicos, por exemplo). São eles: retrações de pele e do mamilo que deixam a mama com aspecto de casca de laranja; saída de secreção aquosa ou sanguinolenta pelo mamilo, chegando até a sujar o sutiã; vermelhidão da pele da mama; pequenos nódulos palpáveis nas axilas e/ou pescoço. Outros sinais possíveis são a inversão do mamilo, inchaço da mama e dor local.
A importância do conhecimento
Todos os sinais listados acima devem sempre ser investigados por uma equipe médica, não só a partir da avaliação em consultório, mas também por meio de exames específicos para diagnosticar ou descartar o câncer. Porém, uma importante etapa antecede esse momento da consulta: o conhecimento e a percepção de sinais e sintomas. Essa é uma estratégia fundamental para reconhecer quando algo não vai bem em si mesmo, e o próprio INCA reforça isso. Independentemente da idade, mulheres e homens devem ser estimulados a conhecer o próprio corpo para saber o que é e o que não é normal, inclusive nas mamas. A maior parte dos cânceres é descoberta pelos próprios pacientes casualmente.
Sendo assim, os indivíduos devem ser conscientizados quanto ao conhecimento e a percepção de alterações suspeitas. Isso significa estar consciente e alerta acerca dos sinais e sintomas das mamas, a fim de identificar possíveis anormalidades. Paula lembra que, segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, o Brasil possui cerca de 20% de cobertura mamográfica, que é um exame radiológico realizado nas mamas. Isso quer dizer que de cada 100 mulheres com indicação de realização de mamografia, somente 20% estão fazendo.
“Nesse cenário, a prática do autoconhecimento se torna além de um autocuidado um hábito importante na detecção de lesões, uma vez que a grande maioria dos tumores de mama se apresentam como nódulos palpáveis. Vale ressaltar que a prática não exclui o exame clínico”, complementa a profissional.
Os próximos passos
Depois que surge a suspeita, o próximo passo é procurar ajuda profissional. No âmbito do SUS, Paula explica que o sistema foi desenhado de maneira a oferecer assistência à saúde por etapas. Ou seja, quando surge algum sinal preocupante a pessoa deve ser encaminhada a um mastologista que pode validar essa suspeita a partir de uma biópsia, a qual consiste na coleta de uma amostra da lesão para análise laboratorial.
Confirmado o diagnóstico, a médica explica que a pessoa será encaminhada a um serviço especializado, que avaliará se é um tumor inicial ou avançado e definirá o tratamento mais adequado, o qual pode contemplar cirurgia, quimioterapia e radioterapia.